quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Amor em Viagem

" O pintor caiava a parede e assobiava. A casa cuja parede ele pintava estava rodeada de árvores. Nas árvores cantavam pássaros de uma só estação. Reparei que tudo habitava sob uma aura de felicidade. O mundo parecia não desanimar, e o mundo tinha rigorosamente a nossa idade. Eu e ela estávamos de mãos dadas, e havia uma larga esperança nos nossos olhos. Estávamos sempre de mãos dadas, mesmo quando dormíamos. E os nossos olhos expunham sempre uma larga esperança.
- Não te esqueças, nunca te esqueças de Oviedo, e do pintor a caiar a parede, e da casa rodeada de árvores.
Disse-me isto e beijou-me. Depois, acariciou-me a face com a ternura de quem deseja manifestar num gesto o que é impossível dizer por palavras. O pintor voltara-se, naquele instante, e do alto da sua escada sorriu para nós dois. Um sorriso honesto e levemente malicioso. Acenámos-lhe com o júbilo de quem se ama e gosta de enunciar aos outros esse amor evidente. (...)"
excerto de um texto do livro "A Cara da Gente" de Baptista Bastos

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